sábado, 26 de abril de 2008

HANSENÍASE

A hanseníase, antigamente conhecida como Lepra, é uma doença infecto contagiosa, de evolução crônica, causada pela bactéria Mycobacterium leprae, microorganismo que acomete principalmente a pele e os nervos das extremidades do corpo.As regiões mais afetadas são braços, mãos, coxas, pernas, pés e a face. Quando não tratada, a doença pode causar deformidades que incapacitam o indivíduo para o trabalho e socialmente.

A hanseníase aflige a humanidade desde a antiguidade. No passado era comum em todos os continentes, e deixou uma imagem assustadora de mutilação, fazendo com que os portadores da hanseníase sofressem rejeição e segregação por parte da sociedade.

A transmissão se dá de indivíduo para indivíduo, por bacilos eliminados por gotículas da fala, secreções nasais , tosse e espirro que são inalados por outras pessoas penetrando o organismo pela mucosa do nariz, ou o contato direto com a pele através de feridas, no entanto, é necessário um contato íntimo e prolongado para a contaminação, como a convivência de familiares na mesma residência. Daí a importância do exame dos familiares do doente de hanseníase.A maioria das pessoas, mesmo entrando em contato com o bacilo, não adoece porque tem uma resistência natural. Nem todos aqueles que adoecem são capazes de transmitir a doença. Aqueles que transmitem a doença são chamados de multibacilares. Após o início do tratamento o paciente multibacilar deixa de transmitir a doença.

A maioria da população adulta é resistente à hanseníase, mas as crianças são mais susceptíveis, geralmente adquirindo a doença quando há um paciente contaminante na família. O período de incubação varia de 2 a 7 anos e entre os fatores predisponentes estão o baixo nível sócio-econômico, a desnutrição e a superpopulação doméstica. Devido a isso, a doença ainda tem grande incidência nos países subdesenvolvidos.

Seus principais sinais e sintomas são: sensação de formigamento, fisgadas ou dormência nas extremidades; manchas brancas ou avermelhadas, geralmente com perda da sensibilidade ao calor, frio, dor e ao toque; áreas da pele que apresentem alteração da sensibilidade e da secreção de suor; caroços e placas em qualquer região do corpo e diminuição da força muscular (dificuldade para segurar objetos).

Manifestações clínicas

As formas de manifestação da hanseníase dependem da resposta imune do hospedeiro ao bacilo causador da doença. Esta resposta pode ser verificada através do teste de Mitsuda, que não dá o diagnóstico da doença, apenas avalia a resistência do indivíduo ao bacilo. Um resultado positivo significa boa defesa, um resultado negativo, ausência de defesa e um resultado duvidoso, defesa intermediária.

O teste de Mitsuda é realizado inoculando-se na pele do braço do paciente 0,1 mL de lepromina e verificando-se depois 30 dias, a reação desenvolvida. A lepromina é uma suspensão de bacilos da lepra, obtidos de leproma (granuloma da lepra), mortos pelo calor.
Quando o teste é positivo, há a formação de um nódulo no sítio da injeção, com diâmetro superior a 5mm, apresentam também uma superfície de endurecimento, depois 24 e 48 horas da injeção. Os indivíduos Mitsuda positivo são mais difíceis de obter infecção, e caso desenvolvam será a forma mais benigna (tuberculóide). Os indivíduos Mitsuda negativos apresentam risco de desenvolver a forma mais grave (lepromatosa).

Temos então, as seguintes formas clínicas da doença
  • Hanseníase indeterminada: forma inicial, evolui espontaneamente para a cura na maioria dos casos e para as outras formas da doença em cerca de 25% dos casos. Geralmente, encontra-se apenas uma lesão, de cor mais clara que a pele normal, com diminuição da sensibilidade. Mais comum em crianças.
  • Hanseníase tuberculóide: forma mais benigna e localizada, ocorre em pessoas com alta resistência ao bacilo. As lesões são poucas (ou única), de limites bem definidos e um pouco elevados e com ausência de sensibilidade (dormência). Ocorrem alterações nos nervos próximos à lesão, podendo causar dor, fraqueza e atrofia muscular.
  • Hanseníase borderline (ou dimorfa): forma intermediária que é resultado de uma imunidade também intermediária. O número de lesões é maior, formando manchas que podem atingir grandes áreas da pele, envolvendo partes da pele sadia. O acometimento dos nervos é mais extenso.
  • Hanseníase virchowiana (ou lepromatosa): nestes casos a imunidade é nula e o bacilo se multiplica muito, levando a um quadro mais grave, com anestesia dos pés e mãos que favorecem os traumatismos e feridas que podem causar deformidades, atrofia muscular, inchaço das pernas e surgimento de lesões elevadas na pele (nódulos). Órgãos internos também são acometidos pela doença.
O diagnóstico precoce, o tratamento regular e o acompanhamento da equipe médica poderão impedir o aparecimento das deformidades incapacitantes.

Como verificar se manchas são dormentes?

Um teste simples pode ser feito para a verificação da alteração na sensibilidade. Pode ser feito com um alfinete, e com a pessoa que está sendo examinada de olhos fechados ou sem olhar para a região do teste.

A pele deve ser tocada suavemente na área suspeita de dormência e na pele sadia (Atenção: tocar suavemente! Cuidado para não espetar ou furar a pele!). Quando a pessoa sente de forma diferente o toque da ponta do alfinete ou não sente na área da mancha, pode se tratar de um caso de hanseníase.

Outra forma é alternar toques com a ponta ou a cabeça do alfinete e pedir para quem está sendo examinado dizer, sem olhar, se foi um toque com a ponta ou a cabeça. Se houver dormência ou diminuição da sensibilidade a pessoa terá dificuldade em diferenciar os dois toques.
Nestes casos, a pessoa deve procurar um posto de saúde na região onde mora para um exame mais completo

Nas formas paucibacilares (poucos bacilos), que acometem pessoas mais resistentes à doença, são utilizados 2 medicamentos durante seis meses. Os multibacilares (muitos bacilos), que têm menos resistência à hanseníase fazem o tratamento com 3 medicamentos, por 12 ou 24 meses.

O tratamento é feito pelo Sistema Único de Saúde, nos postos de saúde ou hospitais, com distribuição de medicamentos fornecidos pela rede pública de saúde. O tratamento só será 100% eficiente se for feito do começo ao fim.

O Brasil ocupa o 5.º lugar no mundo em números de casos de tratamento para cada 10.000 habitantes e primeiro lugar nas Américas, apesar dos esforços para eliminação da hanseníase, enquanto problema de saúde pública, e ainda encontra dificuldades para atingir a meta pactuada na 44.ª Assembléia Mundial de Saúde, em 1991, que considerava a hanseníase como eliminada em um índice de prevalência menor que 1 caso por 10.000 habitantes.

Os estados que merecem atenção são os da Amazônas, mais os estados de Mato Grosso, Goiás, Pernambuco, Piauí e Bahia que apresentam maior incidência da doença e são considerados prioritários, 72,4% da carga da doença no País. Nos municípios desses estados, além das altas taxas de prevalência e de detecção de casos novos, os percentuais elevados de casos na faixa etária de menores de 15 anos de idade, demonstram a fragilidade no sistema de vigilância epidemiológica da doença.

Um pouco da história

A cura da doença surge em meados da década de 40, mas só em 1959 uma assembléia mundial decide acabar com o isolamento e segregação a que eram submetidos os portadores da hanseníase. Somente no inicio da década de 70, o Brasil começa a terminar com a política de isolamento e de condenação ao confinamento em colônias. Hoje, as pessoas acometidas recebem remédios de graça e se tratam em casa, com acompanhamento médico nas unidades básicas de saúde. O tratamento dura, em média, de seis meses a um ano.




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